Documentação necessária para um sistema de gestão

O quanto de Informação Documentada é necessária para um sistema de gestão?

 

Um dilema freqüente que as empresas enfrentam quando implantam um sistema de gestão certificável (sistema de gestão da qualidade, ambiental, saúde e segurança no trabalho, responsabilidade social, segurança da informação, manejo florestal, entre outros), é se devemos documentar ou não os elementos do sistema de gestão, e, se resolvermos documentar, o quão detalhado devem ser os manuais e procedimentos.


A norma ISO 9001:2015 utiliza a nomenclatura Informação Documentada para substituir vários termos utilizados em versões anteriores, como procedimento, manual, registro, processo, plano, etc. A Informação Documentada é a informação que se requer que seja controlada e mantida por uma organização e o meio no qual está contida (papel, eletrônico, etc.).

Mas o quanto de Informação Documentada (em qualquer meio) é necessário para um sistema de gestão?

O documento da ISO Guia para os requisitos de informação documentada da ISO 9001:2015 esclarece que existem requisitos de manter informação documentada incluem:

1.       Estabelecer o Sistema de Gestão da Qualidade (documentos transversais a todo o sistema no mais alto nível):

a.       O escopo do sistema de gestão da qualidade;

b.    A informação documentada necessária para suportar a operação dos processos (o que vai variar de empresa para empresa, dependendo do porte e da complexidade tecnológica dos processos);

c.       A Política da Qualidade;

d.      Os objetivos da Qualidade.


2.       Comunicar a informação necessária para a organização operar (baixo nível, documentos específicos). Existem 11 requisitos na norma de se manter informações documentadas. Exemplos de documentos necessários para uma organização operar podem incluir:

a.       Organogramas;

b.      Mapas de processos;

c.       Procedimentos;

d.      Instruções de trabalho;

e.      Especificações;

f.        Comunicação interna;

g.       Programação de produção;

h.      Lista de fornecedores aprovados;

i.         Planos de inspeção e testes;

j.        Planos da qualidade;

k.       Manuais da qualidade;

l.         Planos estratégicos;

m.    Formulários.


3.       Informação documentada necessária para ser retida com o propósito de fornecer evidência de que os resultados foram alcançados (registros). Existem 21 requisitos na norma de se reter informações documentadas, mas outros podem ser necessários para a organização demonstrar a conformidade de seus processos, produtos e serviços.

Vemos então que os requisitos de informações documentadasna norma ISO 9001:2015 superam em muito os requisitos existentes em versões anteriores. Em outras normas de sistemas de gestão, como a API Q1 9ª edição, os requisitos de procedimentos e registros (são 31 procedimentos mandatórios e um maior número de registros) também supera em muito os requisitos da ISO 9001:2008. E isso são só os obrigatórios!

Além dos objetivos declarados para documentarmos um Sistema de Gestão da Qualidade, tais como, como orientar a execução dos processos para atingir a conformidade com os requisitos dos clientes e do mercado e a melhoria da qualidade dos processos, produtos e serviços; facilitar e prover treinamento apropriado; assegurar a rastreabilidade e a repetitividade; prover evidências objetivas; e avaliar a eficácia e a contínua adequação do sistema de gestão; existe mais um objetivo a ser considerado: Preservar o conhecimento relevante para a empresa, que na ISO 9001:2015 é chamado Conhecimento Organizacional.

A extensão da documentação necessária e os meios a serem utilizados dependem de inúmeros fatores, como o tipo e o tamanho da organização, a complexidade e a interação de seus processos, a complexidade dos produtos, os requisitos legais, regulamentares ou dos clientes, o conhecimento e experiência da força de trabalho, e a cultura organizacional da empresa.

Queremos chamar a atenção para a importância deste último tema, a cultura organizacional. Temos visto empresas com uma extensa documentação, cuidadosamente preparada para atender aos requisitos de normas de certificação ou de clientes, mas que não é utilizada na rotina de trabalho da empresa e é encarada internamente como "uma burocracia necessária (ou desnecessária) ”. Nestes casos a empresa despendeu recursos bastante significativos com um retorno muito pequeno ou nulo.

Estes então são desafios que os consultores ou os responsáveis pelo sistema de gestão da empresa têm que enfrentar. O que documentar do sistema de gestão? Em que profundidade? Qual o propósito da Informação Documentada? Como assegurar que a documentação será útil para a empresa atingir seus objetivos?

Um erro muito comum cometido por quem escreve Informação Documentada é achar que sua prosa é suficientemente veemente e clara e que todos vão entender o que se pretende e vão passar a utilizar corretamente aquelas instruções. No enorme universo de diferenças culturais, de conhecimento e de experiência que existe numa empresa, só por um milagre tal coisa vai acontecer.

Depois de documentar uma atividade ou processo, temos que ter disposição e energia para enfrentar a etapa da "implantação”, que irá requerer longas e, às vezes, fatigantes negociações, convencimentos e esclarecimentos. E temos que ter a flexibilidade para entender que por mais tecnicamente perfeito que seja um documento, ele não vale nada se não for utilizado. Muitas vezes temos que achar uma "solução de compromisso” que resulte na real utilização do documento e, com isso, agregar valor ao negócio.

Esta fase de implantação é freqüentemente chamada de "treinamento” e esta fase também tem sido uma fonte de erros freqüentes por parte dos responsáveis pela elaboração da Informação Documentada. O que se pretende é convencer as pessoas que é do interesse delas e da empresa que o documento (manual, plano ou procedimento) seja cumprido, e não simplesmente "apresentar” o documento.

Nunca vamos conseguir isso num treinamento convencional no qual os participantes sejam assistentes passivos de um instrutor que apresenta o documento. Este treinamento tem que incentivar a participação das pessoas, não só a praticar o processo como está descrito, mas também a expressar suas dificuldades em entender os objetivos do documento, suas dúvidas se aquela é a melhor maneira de realizar a atividade, sua insegurança em seguir uma forma de execução na qual não têm experiência, dificuldades de redação de textos em registros, dificuldades de acessar meio eletrônicos, e muitos outros pontos que não foram previstos pelos redatores do documento.

Acreditamos muito no valor da Informação Documentada como um dos ativos intangíveis de uma organização, como uma forma importante de preservar o conhecimento de uma empresa. Mas para conseguir elaborar uma documentação que seja eficaz no apoio à conquista dos objetivos da empresa, temos que aprender a conciliar o conhecimento técnico com a cultura das pessoas que compõem a organização, de modo a produzir documentos que sejam realmente úteis para o dia-a-dia das pessoas.

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