Erros na avaliação da eficácia da capacitação

Erros na avaliação da eficácia da capacitação

 As normas de gestão ISO 9001:2015 e ISO 14001:2015 solicitam, em seu item 7.2, que as pessoas sejam competentes, com base em educação e treinamento ou experiência; e, onde aplicável, tomar ações para adquirir a competência necessária e avaliar a eficácia das ações tomadas. Outras normas de gestão, como a API Q1 e API Q2 solicitam a mesma coisa (os itens da norma são outros).

A grande maioria das empresas entende que a ação a ser tomada, se necessário, é apenas o treinamento, e procuram atender ao requisito de avaliar a eficácia das ações tomadas com algum tipo de avaliação feita após o retorno dos treinandos ao trabalho pelos supervisores das áreas, procurando verificar assim se houve alguma melhora nas atividades operacionais.

Quem já participou comigo de consultorias, treinamentos, ou auditorias sabe que critico muito essa abordagem, por dois (2) motivos:

1.  A ação tomada não deve ser necessariamente um treinamento. Se a lacuna encontrada for de experiência, por exemplo, a ação de treinamento não adianta nada. E além do treinamento convencional existem muitas outras práticas que podem ser eficazes, como a rotatividade (job rotation), o aconselhamento (mentoring), um estágio supervisionado, etc. O que as normas de gestão pedem é uma avaliação da eficácia da ação tomada, e não apenas do treinamento.

2.  Avaliar o treinamento pela aplicação dos conhecimentos adquiridos no dia-a-dia do trabalho também é um erro, pois mesmo que o conhecimento tenha sido bem transmitido durante o treinamento, a aplicação dos conhecimentos na rotina de trabalho não depende do professor.

Esse segundo fator foi muito bem evidenciado por um artigo publicado na Havard Business Review Brasil chamado "Porque os programas de treinamento não funcionam – e o que fazer”, de autoria de Michael Beer, Magnus Finnstrom e Derek Schrader. Os autores afirmam que "as corporações estão sendo vítimas de um assalto no que se refere a treinamento e que, em geral, a aprendizagem não se traduz em melhoria do desempenho organizacional, já que as pessoas logo voltam ao seu jeito antigo de fazer as coisas”.

Não vou reproduzir aqui o longo artigo, mas os autores identificaram algo que já alertamos ha muitos anos. A eficácia do treinamento não depende apenas do conteúdo do treinamento ou do instrutor, mas sim do ambiente organizacional que crie um ambiente favorável ao aprendizado e crescimento. Como afirmam os autores, os problemas de comportamento e desenvolvimento organizacional decorrem de um sistema de gestão ineficiente e precariamente projetado.

Quando apontamos isso em auditorias, estamos mostrando que é necessária uma melhoria da prática utilizada. Não basta apenas tem uma maneira de avaliar a eficácia dos treinamentos, para cumprir o requisito da norma. Essa avaliação deve ser utilizada para melhorar o sistema de gestão. Acho que podemos resumir esse questionamento numa pergunta:

A avaliação da eficácia do treinamento é eficaz?

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